14/03/2011

14/03/1883 - O mundo perde Karl Marx

No dia 14 de março de 1883, o grande pensador do materialismo histórico deixava este mundo. Nós que nos reivindicamos marxistas e que fazemos da nossa vida uma trajetória de militância na luta social, sabemos a importância das ideias de Marx para a compreensão da história, da luta de classes e para a intervenção dos socialistas nas batalhas cotidianas. Deixo vocês com a tradução da fala de Engels em seu funeral. O texto foi extraído do site Arquivo Marxista na Internet.





Discurso no funeral de Karl Marx

Friedrich Engels - 18 de março de 1883


Em 14 de março, quando faltam 15 minutos para as 3 horas da tarde, deixou de pensar o maior pensador do presente. Ficou sozinho por escassos dois minutos, e sucedeu de encontramos ele em sua poltrona dormindo serenamente — dessa vez para sempre.

O que o proletariado militante da Europa e da América, o que a ciência histórica perdeu com a perda desse homem é impossível avaliar. Logo evidenciará-se a lacuna que a morte desse formidável espírito abriu.

Assim como Darwin em relação a lei do desenvolvimento dos organismos naturais, descobriu Marx a lei do desenvolvimento da História humana: o simples fato, escondido sobre crescente manto ideológico, de que os homens reclamam antes de tudo comida, bebida, moradia e vestuário, antes de poderem praticar a política, ciência, arte, religião, etc.; que portanto a produção imediata de víveres e com isso o correspondente estágio econômico de um povo ou de uma época constitui o fundamento a parir do qual as instituições políticas, as instituições jurídicas, a arte e mesmo as noções religiosas do povo em questão se desenvolve, na ordem em elas devem ser explicadas – e não ao contrário como nós até então fazíamos.

Isso não é tudo. Marx descobriu também a lei específica que governa o presente modo de produção capitalista e a sociedade burguesa por ele criada. Com a descoberta da mais-valia iluminaram-se subitamente esses problemas, enquanto que todas as investigações passadas, tanto dos economistas burgueses quanto dos críticos socialistas, perderam-se na obscuridade.

Duas descobertas tais deviam a uma vida bastar. Já é feliz aquele que faz somente uma delas. Mas em cada área isolada que Marx conduzia pesquisa, e estas pesquisas eram feitas em muitas áreas, nunca superficialmente, em cada área, inclusive na matemática, ele fez descobertas singulares.

Tal era o homem de ciência. Mas isso não era nem de perto a metade do homem. A ciência era para Marx um impulso histórico, uma força revolucionária. Por muito que ele podia ficar claramente contente com um novo conhecimento em alguma ciência teórica, cuja utilização prática talvez ainda não se revelasse – um tipo inteiramente diferente de contentamento ele experimentava, quando tratava-se de um conhecimento que exercia imediatamente uma mudança na indústria, e no desenvolvimento histórica em geral. Assim por exemplo ele acompanhava meticulosamente os avanços de pesquisa na área de eletricidade, e recentemente ainda aquelas de Marc Deprez.

Pois Marx era antes de tudo revolucionário. Contribuir, de um ou outro modo, com a queda da sociedade capitalista e de suas instituições estatais, contribuir com a emancipação do moderno proletariado, que primeiramente devia tomar consciência de sua posição e de seus anseios, consciência das condições de sua emancipação – essa era sua verdadeira missão em vida. O conflito era seu elemento. E ele combateu com uma paixão, com uma obstinação, com um êxito, como poucos tiveram. Seu trabalho no 'Rheinische Zeitung' (1842), no parisiense 'Vorwärts' (1844), no 'Brüsseler Deutsche Zeitung' (1847), no 'Neue Rheinische Zeitung' (1848-9), no 'New York Tribune' (1852-61) – junto com um grande volume de panfletos de luta, trabalho em organização de Paris, Bruxelas e Londres, e por fim a criação da grande Associação Internacional de Trabalhadores coroando o conjunto – em verdade, isso tudo era de novo um resultado que deixaria orgulhoso seu criador, ainda que não tivesse feito mais nada.

E por isso era Marx o mais odiado e mais caluniado homem de seu tempo. Governantes, absolutistas ou republicanos, exilavam-no. Burgueses, conservadores ou ultra-democratas, competiam em caluniar-lhe. Ele desvencilhava-se de tudo isso como se fosse uma teia de aranha, ignorava, só respondia quando era máxima a necessidade. E ele faleceu reverenciado, amado, pranteado por milhões de companheiros trabalhadores revolucionários – das minas da Sibéria, em toda parte da Europa e América, até a Califórnia – e eu me atrevo a dizer: ainda que ele tenha tido vários adversários, dificilmente teve algum inimigo pessoal.

Seu nome atravessará os séculos, bem como sua obra!

03/03/2011

Fora Kadaffi

Artigo publicado no blog da Secretaria de Relações Internacionais do PSOL.


Livro Verde, por Mahjoob, Palestina.

O povo da Líbia está protagonizando heróicas jornadas. Seguindo o exemplo de seus irmãos tunisianos e egípcios, levantam-se agora, contra o regime de Kadaffi.

A diferença daqueles países para a Líbia é que neste pais. A luta esta sendo mais difícil e heróica, pois o regime está enfrentando as manifestações com todo o aparato do Estado, massacrando manifestantes (desarmados!) com aviões e tanques das forças armadas nacionais. Ainda assim, os revolucionários têm triunfado e ocupam uma parte importante do território Líbio.

Ante a insurreição popular, Kadaffi inicia a difusão de calúnias, chamando os manifestantes de “ratos e mercenários” e afirmando possuem vínculos com a Al Qaeda, justificando dessa maneira, a brutal repressão.
O povo, no entanto, é destemido e segue enfrentando a repressão. Setores do exército também se rebelaram, passando para o lado revolucionário. As kalafnikof que estão nas mãos do povo são a mostra do heroísmo e do triunfo sobre o exército. As mortes hoje já atingiram o patamar de 640, entre os quais 130 são militares fuzilados pelo regime.

Essa revolução não apresenta diferenças com as recentemente ocorridas no Egito e na Tunísia. Pelo contrário, é parte do mesmo processo revolucionário que sacode o mundo árabe.

Kadaffi tomou o poder em 1969 e manteve uma política independente do imperialismo até os anos 90, quando, começou a pactuar, cada vez mais abertamente, com os governos ocidentais. Esse giro significou também a liquidação das liberdades democráticas e a instalação de um regime autoritário, com Kadaffi à frente do o poder por 42 anos e com seus filhos alocados em postos chave.

Não é casual que não tenha se pronunciado nesses anos em apoio à causa palestina e que se tenha convertido numa peça de apoio à política do imperialismo europeu na região. Berlusconi, por exemplo, deixa claro nesses últimos dias o apoio ao ditador.

Estão enganados aqueles que, como Kadaffi, afirmam que as massas líbias estão sendo orquestradas por vontades externas, imperialistas. A revolução em curso no mundo árabe não pode ser de interesse das potências mundiais. Pelo contrário, essa revolução é um golpe das massas sobre a política imperialista, capaz de desarticular seu poder na região e atingir seus interesses políticos e econômicos.

É uma grande intifada que recorre à região, como afirmou Hassan Nasrallah, secretário geral do heróico Hezbolah que, entre suas conquistas, está a derrota do exército israelita. São revoluções do povo, com as quais devemos solidarizar-nos! É o povo que está decidindo nas ruas e em suas ações a liquidação dos regimes títeres dos Estados Unidos e Europa, entre os quais se localiza Kadaffi.

Hassan Nasrallah afirmou com as seguintes palavras:

“É uma revolução daqueles que se recusam a ser humilhados e insultados porque este país tem estado sob a sujeição de ter entregue a sua vontade para os Estados Unidos e Israel. É uma revolução política, social e humana. É uma revolução contra tudo – a corrupção, a opressão, a fome, a delapidação dos recursos deste país, e a política do regime sobre o conflito árabe-israelense “.

E continuou dizendo:

“A esmagadora maioria dos povos árabes e islâmicos rejeitam as políticas dos EUA, por razões óbvias: o absoluto apoio americano a Israel e suas guerras desde a criação da entidade sionista na guerra de Gaza em 2008 (também vimos isso na guerra contra o Líbano em 2006); o apoio absoluto americano às ditaduras corruptas, suas aliadas na região; as próprias guerras americanas e os crimes no Iraque, Afeganistão, Paquistão e em outros lugares no mundo árabe e islâmico “

É verdade. O imperialismo tem estado contra a revolução árabe. Apoiou Ben Ali e Mubarak até o último minuto e não fez – e certamente não fará – nenhuma ação que possa enfraquecer Kadaffi. Derrotada sua política pelas massas, a tentativa imperialista é a de cavalgar nos processos, mas agindo na defensiva.

Quanto mais esta revolução que está em curso se aprofunde, chegue a mais países; quanto antes Kadaffi seja definitivamente derrotado, maior será o golpe contra a atual dominação mundial imperialista.

Fora Kadaffi!
Chega de massacres!
Solidariedade ao povo Líbio!